sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Asfixia Democrática




Numa altura em que tanto se fala de asfixia democrática não nos sentimos já asfixiados por este falso desejo de liberdade?
A liberdade é um termo muito complexo, pelo que seremos incapazes de abordar todas as suas dimensões. Falemos então da liberdade de pensamento.


Na sociedade actual a ânsia de liberdade de expressão pode estar a cair no extremo de sufocar a própria liberdade individual de pensamento. Antes do direito à liberdade de expressão está a nossa liberdade individual ou colectiva de pensarmos sem nos preocuparmos em tornar públicas todas as nossas reflexões e pensamentos.


Cada vez mais a reserva da liberdade de pensamento é menor. Vivemos numa sociedade onde tudo o que se pensa, reflecte, discute e racionaliza tem de ser tornado público, muitas vezes sem necessidade. Esta necessidade de transparência não será, ela própria, uma forma de asfixia democrática? Não será uma forma de privação da liberdade individual?


Na procura pela liberdade não estaremos nós a colidir com a mesma? Se falamos em acabar com o sigilo bancário, com a divulgação de contas privadas e tantos outros temas recentemente discutidos não estaremos de todo a asfixiar a liberdade de cada pessoa? A liberdade enquanto autonomia e espontaneidade do indivíduo não estará desta forma a ser violada?


Uma sociedade justa e democrática deve respeito aos seus cidadãos. Deve promover a independência dos seus cidadãos e pensar no bem – comum e no bem – estar para todos. No entanto, a procura pelo bem – estar comum não deve nem pode colidir com as liberdades individuais de cada pessoa.


Não podemos pretender que se alcance uma sociedade democrática quando atropelamos constantemente a liberdade dos seus cidadãos. Uma sociedade democrática é aquela que respeita as liberdades individuais e colectivas de cada pessoa, promovendo o debate de ideias de forma salutar, garantindo o direito à liberdade de pensamento e de expressão individuais e colectivas de forma saudável e contribuindo para que todos os cidadãos vejam respeitadas as suas liberdades.


Não podemos, portanto, cair no exagero de pretender tornar tudo transparente e público. A reserva de pensamento e reflexão individuais não pode ser violada da forma que tem sido sob uma falsa pretensão de liberdade de expressão. A verdadeira asfixia democrática parece residir, essencialmente, neste excesso de transparência que tanto se apregoa.
Será este o verdadeiro caminho para a liberdade?


Platão da Silva

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