terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um novo modelo de Economia- Economia baseada no Valor Acrescentado



1 - A Economia no início do século XXI

Ao longo do século XX todos, economistas ou não, fomos formatados numa concepção dos três grandes sectores da Economia: Primário (Agricultura, Silvicultura, Pescas e Indústrias Extractivas), Secundário (Indústria Transformadora) e Terciário (Serviços).
Também se firmou ao longo da segunda metade do século XX a ideia de que nas sociedades economicamente mais desenvolvidas os serviços seriam predominantes. É comum falar-se de uma sociedade de serviços.

O Turismo e as Actividades de Lazer foram-se revelando como sectores importantes. Nos últimos tempos e relativamente a Portugal, tem-se falado do Turismo como a vocação que nos sobra.



Por outro lado, tem-se desenvolvido uma imagem esfumada de uma sociedade do conhecimento. Como é que um país com um fraco nível de instrução se transforma numa sociedade de conhecimento alicerçada em tecnologias avançadas?


Ninguém pode pôr em causa o impacto das novas tecnologias, da inovação, da investigação e da criatividade numa sociedade moderna. Mas mesmo os Estados Unidos estimam que apenas entre 30 e 40 % da população possa integrar-se numa sociedade criativa. A chave da Nova Economia tem forçosamente que ser outra. Não há choque tecnológico que chegue para integrar num novo modelo económico a totalidade das populações.

No passado mais recente foram surgindo alguns sinais insólitos. Drucker afirmava há já algum tempo que se o povo se sente mais feliz a produzir batons em vez de aço ele não tinha nada a opor em termos de desenvolvimento económico. O velho modelo de começar pelas indústrias básicas era assim posto em causa sem cerimónias.

Em contacto com empresas multinacionais, na ânsia de conquistar novos investidores na área da indústria, ouvimos muitas vezes o argumento de que a comercialização deixava ao país muito maior valor acrescentado do que a produção industrial.

Por outro lado, o conceito de serviços é vago. Muitas empresas industriais do sector têxtil afirmam que a sua defesa está no serviço que prestam aos seus clientes: rapidez de resposta, pequenas quantidades, ajuda na diferenciação dos produtos, garantia de prazos de entrega, qualidade estandardizada.

O que são, então, serviços? Foi neste contexto crescente de dúvidas que começou a ganhar forma a ideia de que uma economia se constrói na base do valor acrescentado que é capaz de gerar.
Não estamos perante uma afirmação definitiva mas apenas perante uma tese que importa testar e discutir.

Nesta perspectiva, uma Economia Nacional é um conjunto de valores acrescentados. Em cada fileira de actividade deveremos preservar uma parte de valor acrescentado do qual as populações vivem. Quanto maior for a percentagem de valor acrescentado que preservamos, maior prosperidade poderemos assegurar.

Alguns exemplos podem clarificar esta afirmação. Tomemos a Indústria Farmacêutica baseada em investigação. Os gastos com investigação representam uma parte substancial de valor acrescentado e a segunda maior parcela é sem dúvida a comercialização, incluindo a divulgação dos produtos. A Indústria produz as matérias-primas e distribui as matérias-primas pelas embalagens. Seguramente, a investigação e a comercialização representam as duas grandes parcelas de valor acrescentado.
Quando registamos que nos últimos anos temos vindo a perder uma parte da nossa Indústria Farmacêutica, estamos a falar de indústria transformadora. É quase certo que o valor acrescentado originado pela actividade farmacêutica aumentou nos últimos anos se considerarmos o valor acrescentado em termos de divulgação e comercialização.
Este raciocínio ainda permite visionar que o valor acrescentado da investigação se queda num país, o da indústria noutro e o da comercialização em cada país de destino consumidor.

Nós poderemos não ter fábricas de montagem de automóveis, mas podemos produzir componentes para automóveis. O valor acrescentado da comercialização dos automóveis é significativo. Por outro lado, a manutenção e reparação de automóveis gera valores acrescentados mais elevados do que as linhas de montagem e não é deslocalizável.
A tese do valor acrescentado e as nossas preocupações crescentes com a concorrência dos países asiáticos, nomeadamente a China, no que respeita à indústria transformadora levam-nos a analisar as estatísticas publicadas pelo Banco de Portugal sobre Valor Acrescentado.
No quadro anexo, podemos avaliar a situação de Portugal, da Espanha e também da União Europeia dos 15.


É com surpresa que constatamos que a contribuição da Indústria Transformadora no período 2000 / 2002 para o Valor Acrescentado Bruto é apenas de 18,2% sendo de 17,4% em Espanha e de 19,3% na Europa dos 15.Por outro lado, os serviços representam 66,9% em Portugal, 67,8% em Espanha e 70,1% na Europa dos 15.
Podemos com estes números confirmar que a Europa da União ao nível dos 15 já é claramente uma economia de valor acrescentado essencialmente gerado por serviços e com uma fraca indústria transformadora. O que não quer dizer que uma parte dos serviços não seja oriunda de uma indústria transformadora estrangeira ou hipótese igualmente interessante, implantada noutros países da União Europeia.

Desde 1985 é também visível a redução da percentagem da Indústria Transformadora, a redução das actividades do sector primário e o aumento dos serviços.
Estamos, portanto, muito próximo de atingir o patamar de desindustrialização que tanto tememos. O desafio económico fundamental será o de gerarmos valor acrescentado ao ritmo de desenvolvimento desejado.
Mas para mantermos uma economia sustentada, teremos ainda de cuidar de duas outras variáveis: o emprego e o equilíbrio das contas externas.
A nossa integração na zona euro traz-nos as vantagens que resultam de não sofrermos as pressões cambiais que seriam normais com o escudo, mas também nos coloca na situação de não podermos adaptar o valor da nossa moeda à competitividade externa.
Tudo parece indicar que teremos de criar fortes incentivos à actividade exportadora, aceitando que o custo da nossa mão-de-obra não poderá em qualquer caso competir com os custos dos países subdesenvolvidos, nos casos de mão-de-obra intensiva.

Drucker afirma que quando os custos da mão-de-obra não ultrapassam 8 a 10% do custo final não existe o perigo de deslocalização. De facto, não podemos esquecer que os custos de logística pesam substancialmente nas transacções, mas as contas podem ser falseadas se como no caso da China se mantiver um câmbio claramente desajustado das realidades económicas e financeiras.

Nota Importante: Depois de elaborado este relatório tivemos acesso a números de valor acrescentado referentes a 2005. A nossa tese mantém-se e os números tornam-se mais explícitos.

A Globalização não pode por outro lado fazer vista grossa à contrafacção generalizada e a um total desrespeito pela propriedade intelectual. Numa perspectiva de valor acrescentado, quando uma multinacional centraliza as suas operações na Ibéria em Madrid ou Barcelona está a transferir para Espanha uma parte do valor acrescentado que gera o que constitui uma nova forma de exportação de Serviços de Espanha para Portugal, exportação de que não nos damos conta.



Quando vamos a Madrid embarcar num avião que nos transporta a destinos mais longínquos estamos a deixar uma parte do valor acrescentado da nossa viagem em Espanha e se o transporte for da Ibéria a captação de valor acrescentado aumenta substancialmente.

Se Lisboa não se inserir no grupo das três grandes cidades da Ibéria, juntamente com Madrid e Barcelona, estaremos irremediavelmente condenados a ser um país periférico e a perdermos para Espanha, sem dar por isso significativas parcelas de valor acrescentado.
Este é um problema que abordaremos separadamente.

Apresentamos como terceira variável de uma economia moderna : o Emprego. Também nesta área estamos perante uma crescente complexidade que vai desde o envelhecimento da população à imigração de diferentes origens com diferentes níveis de instrução e de grande diversidade cultural.
Uma crescente complexidade pelo fosso crescente entre grupos populacionais com níveis de instrução e de civilização cada vez mais distanciados. Como ocupar condignamente estes muito diferentes estratos populacionais?
Como atrair ou preservar os talentos de que carecemos numa sociedade moderna voltada para a criatividade e para a inovação?

Estamos perante um mar de perguntas cujas respostas exigem clarividente reflexão. Temos que encontrar respostas simples para questões complexas.
Desde 1985 que os sectores primários e a indústria transformadora vêm perdendo peso percentual na repartição do Emprego.

É fácil prever que nos próximos anos esta redução continuará a fazer-se sentir. Consideramos mesmo que as percentagens em 2005 se apresentarão mais próximas dos nossos parceiros europeus ao nível dos 15 nos últimos anos.
Mas outras realidades são óbvias desde já. O self-service que se desenvolveu nas últimas décadas do século XX deixou de fazer sentido no início do século XXI. O faça você mesmo é o oposto de uma sociedade de serviços. Estamos na era de mandar fazer e não de fazermos nós mesmos. Dispondo de um número crescente de cidadãos com mais anos de escolaridade e mesmo com cursos superiores há que desenhar uma reengenharia de tarefas de forma a valoriza-las e torná-las atractivas para pessoas intelectualmente mais evoluídas.


A informatização liberta as funções de enfadonhas e repetitivas práticas administrativas, deixando um espaço que requer mais inteligência no desempenho de cada tarefa.
É evidente que existem hoje novas necessidades que fomentam novas profissões. Diz-se que nos Estados Unidos nunca se pensou, no início do século XX, que no fim do mesmo século existiriam 152.000 psicólogos, 113 000 designers e 52 000 manicuras e pedicuras.


O modelo de economia que apresentamos para o princípio do século XXI alicerça-se em três grandes objectivos:

· Apropriar Valor Acrescentado
· Exportar Valor Acrescentado de forma a equilibrar a Balança de Pagamentos
· Criar empregos e valorizá-los intelectualmente de forma a enriquecê-los e torná-los atractivos.


O desafio está em encontrar soluções para cada um destes objectivos separadamente e quando for possível de forma integrada. Numa fase de crescente globalização com grandes disparidades entre os diversos países protagonistas, a integração será cada vez mais difícil.


Criar Valor Acrescentado!
Richard Florida no seu livro “The Flight of the Creative Classthe new global competition for talent” afirma que os grandes avanços têm por base ideias e as ideias não caem do céu, são imaginadas por pessoas

A tecnologia e a informação não chegam para garantir o desenvolvimento económico. A criatividade servida pela tecnologia e pela informação são a única chave para o sucesso. Neste contexto a investigação é uma ferramenta que se usa para chegar aos objectivos que nos propomos atingir.

Ainda uma anotação no que respeita a valor acrescentado. Nos últimos anos tem-se falado muito de valor acrescentado como um objectivo de aumento de qualidade. Sem pôr em causa este objectivo trata-se de encarar o conceito de valor acrescentado numa perspectiva muito mais ampla e porventura menos sofisticada.


Na ânsia de escapar à concorrência oriunda dos países menos desenvolvidos tem-se vindo a divulgar este conceito de melhoria de qualidade. É assim que algumas empresas europeias se vão acantonando num segmento de mercado cada vez mais reduzido o que só pode conduzir à sua extinção.

Não podemos fugir permanentemente à concorrência. Existe um momento a partir do qual nada mais nos resta que não seja dispormo-nos a enfrentar os concorrentes com as armas e capacidades de que dispomos.

Este é um momento em que os decisores políticos se têm de apoiar em quem conhece o terreno e não nos comentários superficiais de quem se limita a repetir frases feitas apanhadas no ar em conversas de seminário.
Ver quadros aqui- Fonte Bank of Portugal


2 - Lucubrações Sobre o Novo Modelo de Economia

Exposta a tese de valor acrescentado vale a pena analisar a realidade de diferentes ângulos através desta nova óptica.

2.1 – Valorizar e dinamizar a nossa capacidade como empreendedores

2.1.1 – Em Portugal há mais de 1 milhão de empreendedores potenciais
Diz-se habitualmente que os portugueses não são suficientemente empreendedores. Será assim? A experiência demonstra que quando surge uma oportunidade aparecem empreendedores em número tão elevado que a oferta se torna rapidamente excedentária.


Deste facto pode retirar-se a ilação de que os portugueses dominam mal a relação básica entre uma oportunidade e a dimensão do mercado em que ela se insere. Por exemplo: em Portugal o rácio de habitantes por restaurantes e cafés é de 90 habitantes por estabelecimento enquanto em média na Europa, com mais elevado poder de compra, é de 450 habitantes por estabelecimento.


Em Portugal, em 2003, existiam 755.515 empresários em nome individual e 347.883 sociedades num total de 1.103.198, isto é um empresário ou empresa por cada 10 habitantes. Terá de se dizer que uma parte dos empresários em nome individual são trabalhadores por conta própria que escolheram este estatuto. Mas quem trabalha por conta própria manifesta uma inegável propensão para aceitar riscos.


Voltamos à pergunta inicial: existirá de facto, em Portugal, uma clara falta de empreendedores?
Falamos de oferta excedentária e de um deficiente conhecimento do mercado. Perante um mercado reduzido a tendência normal do empreendedor português é alargar a gama de produtos. Por essa via diversifica perdendo produtividade e especialização.

O alargamento dos mercados encontra hoje condições favoráveis no processo de globalização em curso, na integração da Europa dos 25, na redução de riscos cambiais com a introdução do Euro, na proximidade e nas facilidades linguísticas do mercado espanhol, nas facilidades de transporte e telecomunicações a nível internacional, nas facilidades de deslocação e comunicação no território nacional.

Chegamos a uma primeira orientação para uma nova economia:

a) Promover a avaliação dos empresários de que dispomos: disponibilização de cursos de formação em Marketing e Técnica de Vendas bem como cursos básicos de gestão. (Trata-se de uma campanha activa dinamizadora e criadora de um moderno espírito empresarial).

b) Detectar e promover oportunidades geradoras de valor acrescentado: Criar um estado de espírito e condições favoráveis ao alargamento e à conquista de mercados numa perspectiva permanente de especialização e de aumento de produtividade.


2.1.2 – A Necessidade faz os Empreendedores
Costuma dizer-se que a necessidade faz o homem. Seria muito útil que a necessidade fosse também uma forte motivação para lançar novos empreendedores. Olhando para o nosso passado pós – 25 de Abril relembraremos a experiência dos retornados a qual pode considerar-se como um espectacular, embora silencioso, êxito.


É evidente que os retornados das nossas antigas colónias tinham em grande número uma experiência empresarial anterior e também uma enorme pressão para recomporem a sua vida.
Criaram-se programas de incentivos e de apoio a novos empreendedores mas devem transformar-se essas iniciativas numa verdadeira campanha.


A apresentação permanente de casos positivos, e dizemos positivos para não cairmos na tentação um pouco provinciana de transformar casos positivos em casos de sucesso, é sempre estimulante. Uma listagem de oportunidades será uma forma interessante de despertar a ousadia que muitos cidadãos têm latente e que carece de ser estimulada.


2.1.3 – Atrair ou Reter os Empreendedores
Esta é uma matéria sobejamente divulgada, embora se devam ter em conta alguns factores inerentes à globalização. É habitual ouvir às empresas multinacionais que a sua estratégia de investimento é Far EastFar West.


É no Far East e no Far West que se localizam os grandes mercados em desenvolvimento, a mão-de-obra barata e também crescentemente as tecnologias mais avançadas.
Neste contexto global convencer um empreendedor de que Portugal é o país que lhe convém não é tarefa impossível mas não é fácil.

Em termos fiscais, por mais esforços que façamos não chegaremos aos níveis de atractividade que outros países podem oferecer. Poderemos ter um clima agradável e um espaço que se for bem organizado pode constituir um factor de atracção. Falaremos deste aspecto mais tarde. A burocracia da nossa Administração e a ineficácia do Sistema Judicial são factores extremamente negativos que teremos de superar.
A flexibilização da legislação laboral terá que passar por um “win win arrangement”, trocando maiores salários e mais empregos por menores garantias de emprego. A experiência demonstra que um excesso garantista em matéria de emprego se pode transformar em desemprego colectivo.


Mas a atracção e retenção de empreendedores pode ainda ser encarada pelo novo prisma do valor acrescentado. Não procuramos indústrias nem serviços no sentido tradicional, mas sim empreendedores que propiciem a Portugal parcelas de valor acrescentado. Se o Porto de Sines for aproveitado para “transhipment”, muitas mercadorias destinadas a outros países deixarão em Portugal algum valor acrescentado.

Teremos, neste contexto, que explorar novas oportunidades se a visão do valor acrescentado prevalecer.


2.2 – Projectos Galvanizantes
Dado o pessimismo existente é duvidoso que a Economia Portuguesa arranque sem que o Estado lance o país nalguns projectos galvanizantes.

Num país em que o Estado, antes e depois do 25 de Abril, nunca abdicou de ter um papel predominante será ingenuidade considerar que de um dia para o outro a iniciativa privada vai assumir a liderança do nosso desenvolvimento económico.
Não podemos esquecer além disso que o nosso tecido empresarial foi enfraquecido por nacionalizações e privatizações às quais teremos que acrescer a mudança constante e muitas vezes irracional das políticas económicas e financeiras. Sem prejuízo de outras alternativas apresentamos hipóteses de mega-projectos a título exemplificativo.


2.2.1 – 1º Projecto
Fazer da área de influência de Lisboa um dos três grandes pólos de atracção da Península Ibérica, competindo sem complexos de inferioridade com Madrid e Barcelona
Uma das poucas vantagens que os Estados modernos podem oferecer são espaços atraentes, organizados, infra-estruturados e acessíveis.

A região de Lisboa oferece na margem sul do Tejo (Península de Setúbal) condições invulgares:

- Uma região plana fácil de urbanizar e com possibilidade de expansão para o Alentejo;

- 25 kms de praia atlântica na Costa da Caparica;

- a maravilhosa Serra da Arrábida;

- a Península de Tróia com praia e um empreendimento turístico que pode desenvolver-se rapidamente;

- três portos de mar: Lisboa, Setúbal e Sines. Sines é porto de águas profundas com óptimas condições para “transhipment”;

- elevada concentração populacional, considerando naturalmente a população residente na margem norte da foz do Tejo ;

- proximidade da costa do Estoril e da Serra de Sintra, com atractividade turística e ambiental;

- o Património Histórico da cidade de Lisboa e a beleza do estuário do Tejo;

- condições muito favoráveis para a prática de desportos náuticos e de ar livre;

- a beleza ainda não ambientalmente perturbada das praias da Costa Alentejana;

- a proximidade da Costa Algarvia;
- a tranquilidade da paisagem alentejana e a beleza natural das suas cidades e vilas.

Perguntem a qualquer estrangeiro se gostaria de trabalhar nesta zona e ouvirão certamente respostas positivas ou até entusiasmadas.

O que nos falta para fazer avançar este projecto?

- Uma ou duas novas travessias do Tejo a juntar-se às duas pontes já existentes, sendo uma delas ferroviária.

- Um moderno Aeroporto Internacional na margem sul e não na OTA. A escolha da OTA resultava apenas da falta de transportes ferroviários para uma ligação à margem sul.

- Uma ligação ferroviária de alta velocidade à cidade de Madrid.

- Completar a rede de auto-estradas.

- Definir um plano director de desenvolvimento da margem sul, criando para esse efeito uma empresa mista entre o Estado e os Municípios envolventes à semelhança do que se fez com a Parque Expo. A gestão desta empresa só pode ser entregue a gestores com visão de futuro, honestidade absoluta e reconhecimento de idoneidade por parte dos principais partidos políticos.

- Infra-estruturar toda a zona em termos modernos e eficazes.

- Criar uma infra-estrutura de telecomunicações capaz de competir com as mais avançadas a nível mundial.

- Reduzir drasticamente as burocracias e garantir uma transparência absoluta de processos.

- Estabelecer um programa de recuperação dos aglomerados urbanos da margem norte.

- Fazer da região de Lisboa um pólo cultural de nível europeu.

É claro que perante um projecto deste tipo não é difícil imaginar as carpideiras habituais, num estado de espírito mais que salazarista a considerar o projecto impossível dado o estado actual das Finanças Públicas.


Falemos então do financiamento destes projectos.Comecemos por referir o caso da Parque Expo, a título exemplificativo.O investimento total efectuado rondou os 400 milhões de contos incluindo a própria Expo 98. Um estudo efectuado pela Universidade Nova revelou que as receitas cobradas pelo Estado naquela zona, considerando um período alargado de amortização, se elevará a 1400 milhões de contos.


Quando falamos de 400 milhões de contos de investimento teremos desde logo de considerar que uma parte desse valor são impostos que o Estado arrecada à cabeça (IVA por exemplo).
Este exemplo demonstra que é preciso saber fazer bem contas e evitar os empirismos populistas.
O Estado possui, na área que consideramos como nuclear do projecto que se propõe, um vasto conjunto de terrenos sem utilização: Margueira, Alfeite (uma base naval na foz do Tejo parece estrategicamente inaceitável), Base de Fuzileiros de Vale do Zebro, terrenos das antigas fábricas da CUF no Barreiro, Campo de Tiro de Alcochete, Base Aérea do Montijo, etc.


O Estado dispõe certamente de muitos mais terrenos mas os enumerados chegam para demonstrar que a integração deste património como capital da empresa a constituir é suficiente para lançar o projecto enunciado.


As travessias do Tejo estão a ser pagas pelos utentes. É claro que as concessões têm que partir de opções políticas aceitáveis pelos utentes. Deve dizer-se que a Ponte 25 de Abril na sua fase inicial estava paga em 1982. depois disso alargou-se o tabuleiro e construiu-se o tabuleiro ferroviário. Era bom saber-se como estão as contas e que hipóteses existem para garantir um adequado “Project Finance” para as duas novas travessias.

No que respeita a ligação ferroviária de alta velocidade a Madrid recordemos a dificuldade que tivemos em convencer a Comissária Europeia de que não avançaríamos com o projecto. Sempre tomámos essa atitude da Comissária como um sintoma da alta prioridade para este investimento. A ligação de alta velocidade não é um luxo, é uma condição básica para reduzir a nossa periferia. Há investimentos que não se decidem pela sua rentabilidade mas sim pela sua indispensabilidade estratégica.


Os investimentos em infra-estruturas medem-se antes de mais pelos seus efeitos induzidos e só depois pela sua rentabilidade no curto prazo.
Finalmente um novo aeroporto internacional.
Rememoramos aqui o que aprendemos nos contactos efectuados com entidades gestoras de aeroportos a nível internacional. Salvaguardamos a necessidade de actualizar as informações aqui reproduzidas devido a alterações que se possam ter verificado nos últimos cinco anos.

- Um aeroporto internacional tem uma sinergia de cerca de 300 km.

- O desenvolvimento promovido por uma infra-estrutura deste tipo pode ser dividido em três anéis. Um primeiro anel de características 100% técnicas ligadas à exploração. Um segundo anel misto de estruturas técnicas e comerciais. Incluem-se nos empreendimentos comerciais: hotéis, armazéns, escritórios ligados a companhias de aviação, etc. Um terceiro anel de promoção imobiliária.A entidade promotora do aeroporto deve beneficiar, pelo menos parcialmente, das mais valias geradas.

- As actividades ligadas à exploração aeroportuária são multivariadas e muito mais numerosas do que parece à primeira vista: parques de estacionamento, centros comerciais, “handling”, segurança, restauração, higiene e limpeza, combustíveis, manutenção, etc.

- Um aeroporto moderno e funcional na região de Lisboa será um dos aeroportos mais próximos do Continente Americano e com boas perspectivas de ligação ao Continente Africano.

- O tempo ideal de estadia de um avião de grande porte, incluindo desembarque e descarga, limpeza e reabastecimento, carga e embarque é de 45 minutos. É evidente que em aeroportos com sobrecarga de tráfego, tempos de paralisação e atrasos, a permanência não pode situar-se a este nível.

- Um moderno aeroporto intercontinental promove um interessante tráfego de distribuição de passageiros para outros destinos, principalmente destinos secundários.

- Actualmente existe um número reduzido de operadores internacionais com implantação crescente a nível mundial. Esses operadores oferecem às companhias de aviação contratos com serviços standard nas suas redes de aeroportos.


Há cinco anos os operadores mais relevantes eram: um americano, um britânico, um holandês e um alemão. Apareciam com menor frequência outros operadores de menor relevância e reduzida capacidade financeira. Era o caso do operador francês e do operador italiano.

Há cinco anos o britânico e o alemão não mostravam interesse. Julgamos que nunca se efectuaram contactos com o operador americano. O operador francês mostrava-se muito interessado enquanto que o operador holandês mantinha abertura com reserva, muito característica da atitude holandesa face aos negócios.Entretanto surgiram notícias de uma ligação entre o operador holandês e o alemão. O operador holandês era o que demonstrava maior competência e realismo.

Este encadeamento de ideias e informações sempre nos levaram a pensar que a integração numa das redes internacionais era e é uma questão estratégica básica e a escolha do parceiro não é um problema de concurso público é uma escolha estratégica transparente e de acordo com a maximização dos nossos interesses nacionais.

A construção de um novo aeroporto internacional não é a resposta para o tráfego que temos nem para o natural crescimento desse tráfego; é a resposta, é o desafio para o tráfego que queremos ter.
Há cinco anos existia um conjunto de entidades nacionais e estrangeiras interessadas e com capacidade e competência para construírem um novo aeroporto. Nessa altura pensava-se na privatização parcial da ANA tendo os parceiros escolhidos a obrigatoriedade de construir o novo aeroporto e de financiar toda a operação.

Por outro lado, um Banco Estrangeiro de primeira linha sempre se mostrou interessado em financiar e organizar um sindicato bancário capaz de apresentar uma proposta concreta e adequada de financiamento estruturado.

É de tudo isto que estamos a falar quando abordamos a construção de um novo aeroporto internacional de Lisboa. É melhor andarmos depressa antes que Madrid disponha de um segundo aeroporto.

Em vez de comentários míopes gostaríamos de ouvir abordar este problema com profundidade e competência. Quem apresenta como solução a pista de Alverca deve viver mentalmente numa época muito anterior a Fontes Pereira de Melo.

È certo que atravessamos uma fase de crise e de contracção de tráfego mas um novo aeroporto estará pronto para além de 2020. não fazer um novo aeroporto é , de facto, atraiçoar as gerações futuras.


2.2.2 – 2º Projecto
Promover com a intervenção do Estado, aproveitando os apoios da União Europeia e com financiamento a longo prazo adequado, a florestação integral do nosso território com vocação florestal – cerca de 5 milhões de hectares.

Os especialistas consideram que Portugal tem uma nítida vocação florestal que só poderá transformar-se numa fonte de riqueza se for racionalmente plantada e explorada.
Essa racionalidade terá que passar pela dimensão das explorações, dimensão que só se atingirá através de Associações de Proprietários ou pela intervenção de empresas que constituam parcerias entre o Estado e os proprietários.

Nos últimos anos os subsídios disponibilizados pela União Europeia não têm sido adequadamente utilizados Numa florestação equilibrada ao nível das espécies plantadas, da limpeza e conservação e da vigilância, não haverá razão para temer os fogos florestais fora de proporções razoáveis.

A partir da floresta e usando as madeiras como matéria-prima existe uma fileira de actividades industriais e comerciais que poderá ser importante para as nossas vocações exportadoras.
No esquema de florestação a adoptar vão certamente plantar-se espécies de que só poderão esperar-se resultados a muito longo prazo: em certos casos 90 a 100 anos.

Será, portanto, necessário encontrar um equilíbrio nos rendimentos a curto, médio e longo prazo o que envolve esquemas de financiamento específicos.Este projecto poderá envolver na prática todo o território nacional, criar um número elevado de postos de trabalho e constituir uma base para uma actividade exportadora com valor acrescentado. Este será verdadeiramente um projecto verde.


2.2.3 – 3º Projecto
Promover o ensino tecnológico e a investigação aplicada no Norte do País. Transformar a Região do Porto num pólo tecnológico significativo a nível da Ibéria e da Europa. As Universidades do norte do país, nomeadamente as Universidades do Minho, do Porto e de Aveiro têm mostrado uma vitalidade assinalável e alguma capacidade de relacionamento com a indústria. Se o Norte não tem uma grande capacidade natural para grandes infra-estruturas tem por outro lado uma população com uma maior aptidão empreendedora.

O projecto envolve assim uma elevada aposta nas pessoas, na tecnologia e na investigação aplicada.Estamos propondo uma acção concertada com um objectivo muito claro, transformar a Grande Região do Norte num centro tecnológico com significado e prestígio internacional.

Enunciámos três projectos capazes de mudar o estado de espírito extremamente negativo que estamos a viver.São projectos atirados para o futuro que alterarão profundamente a nossa maneira de viver e constituirão um poderoso embrião de desenvolvimento se forem conjugados com outras iniciativas que aqui enumerámos e que têm que ser decididamente postas em marcha.O ideal é que a estes se juntem outros. A sua discussão pública será muito útil desde que estejamos dispostos a banir da discussão a ignorância e o populismo.


2.3 – Uma primeira listagem de acções possíveis

2.3.1 – Atrair os consumidores estrangeiros
Uma das formas de captar valor acrescentado consiste em atrair consumidores estrangeiros ou emigrantes.O turismo, a realização de eventos culturais, desportivos ou outros, representam formas modernas de atrair consumidores estrangeiros.

Desde a nossa integração na União Europeia desenvolveu-se de forma mais intensa o comércio de fronteira. Os casos de Vila Real de Santo António ou de Elvas são exemplos deste comércio de fronteira .O desafio consiste em organizar eficazmente esta actividade e alargar a zona geográfica susceptível de ser atraída.

O que hoje existe é de geração espontânea mas sente-se que com imaginação e algum apoio podemos ir muito mais longe. Trata-se, afinal, de apoios à exportação.
Na fase actual com a diferença de IVA entre Portugal e Espanha o comércio de fronteira começa a ser francamente favorável a Espanha, a alargar-se a mais vastas zonas de Portugal e à compra de matérias-primas para empresas.

Sintoma claro de que a harmonização fiscal na Ibéria é indispensável, constituindo matéria sobre a qual não nos podemos iludir.Por outro lado estamos longe de olhar para cada turista ou estrangeiro que nos visita como um importador, motivando-o a consumir, utilizando-o como elemento de divulgação.

Só um país que cuida mal das suas potencialidades pode tolerar uma mediatização internacional da sua criminalidade própria de países subdesenvolvidos. Trocam-se audiências efémeras dos órgãos de comunicação por prejuízos incalculáveis. Estamos a falar de desinformação e nunca de liberdade de informação.

Os eventos que merecerão análise específica são hoje disputados pelos diversos países com grande afinco por representarem visitas maciças de consumidores estrangeiros e elementos preciosos de promoção comercial.


2.3.2 – Evitar importações
Apesar de estarmos num processo imparável de globalização e de até parecer estar fora de moda evitar importações temos de admitir que as leis do óbvio têm mais importância do que parece à primeira vista.

A situação dos vinhos portugueses é paradigmática. Conseguimos nas últimas décadas melhorar de tal forma a qualidade e a comercialização dos nossos vinhos de mesa que o consumo de vinhos estrangeiros se tem mantido a níveis muito baixos.

É ainda exemplar o facto dos portugueses se sentirem orgulhosos dos seus vinhos dando-os a beber aos seus convidados estrangeiros.Os vinhos que comercializamos em Portugal deixam para a nossa Economia valor acrescentado nas actividades de restauração e o consumo dos turistas que nos visitam deixa-nos valor acrescentado na balança de pagamentos.

2.3.3 – Promover eventos, se possível com apelo e divulgação internacional
Apesar dos exemplos positivos ainda não interiorizámos que os eventos, principalmente os de carácter internacional constituem para a Economia do século XXI motores de desenvolvimento relevantes.

Analisemos os dois casos mais recentes: a Expo 98 e o Campeonato Europeu de Futebol. Já falámos anteriormente das contas da Expo 98. O impacto a nível internacional não foi muito relevante.
Apesar disso o número de visitantes estrangeiros foi significativo, principalmente espanhóis. É um facto que a especulação gerada ao nível hoteleiro foi prejudicial e não houve a promoção turística adequada para obter um melhor aproveitamento internacional.

Soubemos fazer a Expo e garantir o seu funcionamento em condições de excelência. Aproveitámos para reconverter uma zona altamente degradada dos Municípios de Lisboa e de Loures, transformando-a num espaço aprazível com qualidade.

As estruturas construídas continuam a ser utilizadas na sua quase totalidade pelo que o investimento a fundo perdido foi praticamente desprezível... Ao longo de quatro meses os portugueses tomaram contacto com novas realidades e tecnologias e, sobretudo, sentiram-se orgulhosos. Num pequeno mundo organizado, higiénico, moderno, cosmopolita os portugueses sentiram-se bem e colaboraram.
Durante as cerimónias realizadas sob a pala do Pavilhão de Portugal em honra dos vários países convidados, quando a Banda da GNR tocava o Hino Nacional os portugueses que aguardavam na fila de espera para visitar o pavilhão cantavam espontaneamente.Na noite do encerramento ouvimos centenas de milhares de pessoas a gritar: Portugal, Portugal!


Já depois deste fim de Setembro de 1998 tivemos uma nova vaga de entusiasmo popular a propósito da organização e participação no Campeonato Europeu de Futebol. Temos de admitir que as nossas elites têm uma invulgar capacidade para, em pouco tempo, pôr de rastos um povo que quando lhe dão espaço e motivos se entusiasma.
No que respeita ao Campeonato da Europa que representava uma esplêndida oportunidade para colocar Portugal nos ecrãs de televisão de todo o Mundo durante muitas horas e divulgar o que Portugal tem de melhor, algumas vozes agoirentas reduziram, com visão míope, o que teria de impacto este evento a uma discussão sobre estádios e a resultados futebolísticos.


O evento não é responsável pela nossa perspectiva megalómana e paroquial em matéria de estádios de futebol. Como os estádios estão feitos o melhor caminho é pôr a cabeça a trabalhar para encontrar formas de tirar deles o melhor proveito. Independentemente de todas as vicissitudes não existem dúvidas de que os eventos são geradores importantes de valor acrescentado e também de captação de valor acrescentado externo ao país.

Como é muito peculiar entre nós quando uma equipa faz algo bem é rapidamente postergada por novos protagonistas que em vez de aproveitarem a experiência existente se lançam numa dispendiosa aprendizagem desprezando a experiência anterior.


2.3.4 – Aproveitar as actividades desportivas e de lazer como geradoras de valor acrescentado
As actividades desportivas e de lazer têm vindo a aumentar de significado e geram um elevado valor acrescentado. Nas últimas décadas a exportação de música pelos Estados Unidos tem contribuído decisivamente para o equilíbrio das suas contas externas.


Estamos a avançar para uma crescente internacionalização destas actividades e a perspectiva de captação de valor acrescentado representa algo de novo que ainda não sabemos aproveitar em termos económicos.

Continuamos a olhar para o futebol com paixão clubística sem nos darmos conta que essa paixão tem que ser equilibrada pela capacidade de gestão e pelas oportunidades económicas em cada dia mais visíveis.

Exportamos e importamos jogadores e treinadores, impulsionamos o turismo interno e o externo e começamos talvez a visionar que o futebol, por exemplo, é uma forma de tornar conhecida uma cidade ou uma região a nível internacional. Neste contexto, podemos e devemos considerar que se se estabelecem esquemas de apoio às empresas industriais e de serviços não há razão para excluirmos desse apoio sociedades desportivas.

Qual é a contribuição das actividades desportivas e de lazer para o valor acrescentado bruto nacional? Qual é o resultado da nossa balança de transacções ou de pagamentos nessas mesmas áreas?Existem hoje Fundos de Investimento que investem exclusivamente na compra e venda de jogadores e ao que se divulga com muito bons resultados.


2.3.5 – Aproveitar eficazmente as nossas vocações naturais
Recentemente o turismo tem sido considerado com uma última tábua de salvação no que respeita às nossas vocações naturais.Estamos longe de aproveitar eficazmente as nossas potencialidades turísticas oscilando entre o desenvolvimento caótico e a protecção da natureza levada até extremos de incoerência.

Recordemos as célebres gravuras do Vale do Côa. Quem sempre defendeu que as gravuras seriam bem mais importantes do que a barragem não pode deixar de se indignar com a frustração de uma visita ao Vale do Côa. Na verdade nem vemos gravuras nem temos barragem.Aproveitar as potencialidades do Vale do Côa é um bom desafio mas está por realizar, apesar dos acalorados debates sobre o assunto.

No entanto, as gravuras estão lá e o Vale do Côa também e representam um bom valor acrescentado a juntar às margens do Douro, às quintas, às adegas e aos vinhedos da região. Paisagens magníficas a desafiar as mais belas do Mundo.

Merece consenso que o Mar está na base de um conjunto promissor de vocações. Já falámos das nossas praias, dos excelentes portos, das paisagens magníficas numa Europa cuja maior fronteira continental com o Grande Oceano Atlântico é a nossa.

No passado recente com atitudes que bem mereciam procedimento criminal arrasámos a nossa frota de Marinha Mercante e destruímos paulatinamente a nossa Indústria de Reparação e de Construção Naval. As pescas andam por aí numa perspectiva de sobrevivência cada vez mais ameaçada.

Quando entramos nos enormes navios de cruzeiros para 3000 ou mais recentemente para 5000 passageiros e ouvimos referir que foram construídos na Finlândia não podemos deixar de sentir uma profunda revolta. A Finlândia onde o número de dias anual em que é possível trabalhar ao ar livre é reduzido comparativamente com o nosso, devido às condições climatéricas.

Drucker diz há longos anos que o Mar será uma das grandes oportunidades do século XXI porque no Mar o homem ainda não evoluiu da atitude primária do caçador para a atitude racionalizada do lavrador.
A Floresta constitui indiscutivelmente uma terceira vocação. O clima é determinante no crescimento de certas espécies que podem atingir a dimensão de corte entre 15 e 20 anos.
Existe uma fileira industrial que devemos fazer evoluir, a qual se alcança em actividades de capital intensivo e por essa razão menos vulneráveis à concorrência de mão-de-obra barata.

A investigação das nossas vocações naturais ou ocasionais deve ser objecto de uma preocupação constante, pois elas representam um importante potencial de valor acrescentado, de exportação e de criação de emprego.Apresentámos apenas três exemplos que têm sido considerados consensuais.

2.3.6 – Aproveitar o potencial de desenvolvimento dos sectores que apresentam um “boom” de crescimento espontâneo
Dos sectores que registam um crescimento invulgar destacamos: a Saúde e a Segurança.
Tanto num caso como no outro estamos perante sectores com um elevado valor acrescentado. O problema é que nestes sectores o Estado criou fortes responsabilidades sociais as quais transformam uma actividade económica numa despesa pública. Esta atitude constitui um forte obstáculo ao desenvolvimento de cada um destes sectores.

O Estado vai ser forçado pelas circunstâncias a estabelecer os limites da sua intervenção. Nada obsta a que o Estado garanta esquemas de solidariedade social adequados ao nível de coesão indispensável a uma sociedade que pretende desenvolver--se de forma harmoniosa.
Enquanto o Estado não olhar para estes dois sectores como actividades económicas que se desenvolvem para dar resposta a necessidades fundamentais dos cidadãos, os abusos, a anarquia e a irracionalidade dos gastos não será superada, nem garantido o modelo que se pretende preservar.

O Estado deverá definir com rigor o que são as suas funções, que sistemas de solidariedade deseja implementar, o que são as exclusões ou os plafonds de intervenção.
Ao concessionar a exploração de uma praia o Estado pode definir que não garante a segurança dessa praia e que essa é uma obrigação do concessionário, definindo ainda os níveis mínimos de segurança a que o concessionário está obrigado.

2.3.7 – Promover o “outsourcing” de funções exercidas actualmente pela Administração Central e Local
Apesar do “outsourcing” representar uma atitude corrente da Administração estamos ainda longe de reservar para o Estado as tarefas com dignidade e relevância para receberem a designação de Função Pública.

O “outsourcing” está quase sempre ligado a funções de elevado valor acrescentado que podem representar um bom estímulo para a iniciativa privada incluindo parcerias internacionais as quais podem dar às empresas portuguesas um apport de know-how e de organização não desprezíveis.

Por outro lado o “outsourcing” representa normalmente um upgrade das funções que a nível da Administração são não qualificadas.
Uma empregada de serviços de limpeza na Administração representa uma função não qualificada. A mesma empregada ao passar para uma empresa especializada em limpezas ganha importância e exerce a sua função com muito melhor qualificação.

2.3.8 – Aproveitar os Fundos da União Europeia com redobrada eficiência
A experiência anterior deve levar-nos a evitar os erros cometidos no passado. O aproveitamento eficaz dos Fundos Comunitários é uma derradeira oportunidade para usarmos proficuamente essas ajudas.A experiência já demonstrou que investirmos mais dinheiro em modelos e sistemas que estão ultrapassados ou que nunca funcionaram promove mais despesa com resultado nulo.
Todos os sistemas básicos da nossa Administração carecem de remodelação urgente e profunda.
2.3.9 – Promover a investigação aplicada e torná-la rentável
Deixámos para o fim a investigação. Este é um campo complexo que merece ser desenvolvido como um projecto autónomo.Mas algumas linhas de força podem ser apresentadas desde já:

- Há pelo menos vinte anos que se fazem esforços para que os institutos de investigação do Estado sejam financiados por projectos e por serviços prestados. A necessidade de avançarmos neste caminho não pode ser adiada.

- Há um campo de investigação que se impõe desde já. A investigação das melhores práticas a nível internacional em todas as áreas em que carecemos de profundas remodelações, ou mesmo modelos completamente novos de funcionamento.
- As nossas vocações naturais devem ser objecto de programas vastos de investigação – por exemplo: o mar e a floresta e a sua fileira industrial.
- Admitindo que existam projectos individuais merecedores de apoio teremos de eleger algumas áreas de especialização e concentrarmo-nos nelas.

- Muitas empresas fazem investigação sem se darem bem conta de que se estão enriquecendo em termos de know-how o qual constitui um património de grande valor económico.
Aprender a fazer bem, investigar como se pode fazer bem pode ser uma forma eficaz de investigação aplicada.
- As áreas de investigação são áreas de valor acrescentado interno ou exportável.


- As operações de Venture Capital são um complemento indispensável às oportunidades geradas pela investigação.

2.3.10 – Proteger alguns com prejuízo para todos?
Nos Estados Unidos existe uma corrente de opinião que considera de forma mais fleumática a invasão do mercado por produtos têxteis chineses. Os protagonistas dessa corrente afirmam que se os consumidores norte-americanos vão gastar menos em vestuário vão ter mais dinheiro disponível para gastar noutros consumos. A Economia Americana tem que rapidamente encontrar e satisfazer as novas oportunidades que vão surgir.

Se a médio prazo é este o caminho inevitável, a curto prazo geram-se inconvenientes graves ao nível do desaparecimento de postos de trabalho na indústria têxtil dos USA Mas existe uma outra perspectiva para encarar este assunto.

O preço final de venda de um produto representa entre duas a cinco vezes o preço à saída da fábrica. Isto significa que vão ficar pelo caminho (transporte, intermediação, seguros, margens de grossista, de importador ou de marca, promoção e publicidade, margens de retalho, etc.) grandes parcelas de valor acrescentado.

Podemos defender-nos dos produtos chineses comprando-os e absorvendo o valor acrescentado que está para além da produção. O que temos de garantir é que as condições de exploração das lojas pertencentes a comerciantes chineses implantadas no país operam com respeito pelas regras legais vigentes, aspecto que podemos e devemos controlar.

A produção de confecções têxteis em Portugal dá trabalho a alguns milhares de portugueses. A compra de produtos têxteis muito mais baratos pode favorecer dez milhões de portugueses e libertar capacidade económica para outros consumos.


Em síntese:
a) O interesse e a protecção de alguns é apenas uma perspectiva temporária de curto prazo, a médio prazo essa protecção transforma-se num prejuízo para todos.

b) Temos que garantir igualdade de condições e respeito pelas regras da concorrência a nível do mercado interno, muito especialmente no comércio. Existem em Portugal muitas formas de comércio nas margens da legalidade.

c) Em muitos casos o preço industrial é apenas uma pequena parte do preço final. O cálculo do valor acrescentado em cada fase, desde as matérias-primas ao preço final para o consumidor é indispensável e também é igualmente indispensável saber quem vai captar cada parcela desse valor acrescentado.


2.4 – Uma melhoria qualitativa do nosso nível civilizacional
2.4.1 – Melhorar o nosso nível civilizacional
Numa fase da nossa vida colectiva em que não podemos esperar a curto prazo grandes melhorias no que respeita ao nosso PIB per capita deveremos promover uma campanha de melhoria civilizacional.

A alteração de alguns dos nossos menos civilizados comportamentos é um acto de vontade individual e colectiva que pode proporcionar-nos melhor qualidade de vida sem investimento.
A cortesia, o bom atendimento, a excelência com que exercemos as nossas profissões são actos resultantes de fortes motivações individuais e colectivas. O bom exemplo tende a ser seguido. O mau exemplo desencoraja, desmotiva, faz-nos cair no pessimismo e na falta de esperança e de horizontes.

Por isso estamos numa boa fase para lançarmos uma vasta e ambiciosa campanha de “upgrade” civilizacionalHá dois estados de espírito que sempre nos fizeram falta: o fairplay e o achievement, isto é, saber ganhar e saber perder e a satisfação de termos realizado algo ou de nos sentirmos realizados.

Para financiar este estado de espírito teremos apenas de investir na nossa vontade e de aprender a distinguir e a apreciar a inteligência e a criatividade onde elas existam.


Apresentámos um modelo: Uma Economia baseada no valor acrescentado.
Temos esperança de que ele mereça reflexão crítica, aperfeiçoamentos e desenvolvimentos
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