domingo, 20 de setembro de 2009

Novo Modelo de Economia - Valorizar e dinamizar a nossa capacidade como empreendedores




Exposta a tese de valor acrescentado vale a pena analisar a realidade de diferentes ângulos através desta nova óptica.


1 – Em Portugal há mais de 1 milhão de empreendedores potenciais
Diz-se habitualmente que os portugueses não são suficientemente empreendedores. Será assim? A experiência demonstra que quando surge uma oportunidade aparecem empreendedores em número tão elevado que a oferta se torna rapidamente excedentária.
Deste facto pode retirar-se a ilação de que os portugueses dominam mal a relação básica entre uma oportunidade e a dimensão do mercado em que ela se insere. Por exemplo: em Portugal o rácio de habitantes por restaurantes e cafés é de 90 habitantes por estabelecimento enquanto em média na Europa, com mais elevado poder de compra, é de 450 habitantes por estabelecimento.


Em Portugal, em 2003, existiam 755.515 empresários em nome individual e 347.883 sociedades num total de 1.103.198, isto é um empresário ou empresa por cada 10 habitantes. Terá de se dizer que uma parte dos empresários em nome individual são trabalhadores por conta própria que escolheram este estatuto. Mas quem trabalha por conta própria manifesta uma inegável propensão para aceitar riscos.


Voltamos à pergunta inicial: existirá de facto, em Portugal, uma clara falta de empreendedores?
Falamos de oferta excedentária e de um deficiente conhecimento do mercado. Perante um mercado reduzido a tendência normal do empreendedor português é alargar a gama de produtos. Por essa via diversifica perdendo produtividade e especialização.

O alargamento dos mercados encontra hoje condições favoráveis no processo de globalização em curso, na integração da Europa dos 25, na redução de riscos cambiais com a introdução do Euro, na proximidade e nas facilidades linguísticas do mercado espanhol, nas facilidades de transporte e telecomunicações a nível internacional, nas facilidades de deslocação e comunicação no território nacional.


Chegamos a uma primeira orientação para uma nova economia:
a) Promover a avaliação dos empresários de que dispomos: disponibilização de cursos de formação em Marketing e Técnica de Vendas bem como cursos básicos de gestão. (Trata-se de uma campanha activa dinamizadora e criadora de um moderno espírito empresarial).
b) Detectar e promover oportunidades geradoras de valor acrescentado: Criar um estado de espírito e condições favoráveis ao alargamento e à conquista de mercados numa perspectiva permanente de especialização e de aumento de produtividade.


2 – A Necessidade faz os Empreendedores
Costuma dizer-se que a necessidade faz o homem. Seria muito útil que a necessidade fosse também uma forte motivação para lançar novos empreendedores. Olhando para o nosso passado pós – 25 de Abril relembraremos a experiência dos retornados a qual pode considerar-se como um espectacular, embora silencioso, êxito.



É evidente que os retornados das nossas antigas colónias tinham em grande número uma experiência empresarial anterior e também uma enorme pressão para recomporem a sua vida. Criaram-se programas de incentivos e de apoio a novos empreendedores mas devem transformar-se essas iniciativas numa verdadeira campanha.
A apresentação permanente de casos positivos, e dizemos positivos para não cairmos na tentação um pouco provinciana de transformar casos positivos em casos de sucesso, é sempre estimulante. Uma listagem de oportunidades será uma forma interessante de despertar a ousadia que muitos cidadãos têm latente e que carece de ser estimulada.


3 – Atrair ou Reter os Empreendedores
Esta é uma matéria sobejamente divulgada, embora se devam ter em conta alguns factores inerentes à globalização. É habitual ouvir às empresas multinacionais que a sua estratégia de investimento é Far East – Far West.


É no Far East e no Far West que se localizam os grandes mercados em desenvolvimento, a mão-de-obra barata e também crescentemente as tecnologias mais avançadas. Neste contexto global convencer um empreendedor de que Portugal é o país que lhe convém não é tarefa impossível mas não é fácil.


Em termos fiscais, por mais esforços que façamos não chegaremos aos níveis de atractividade que outros países podem oferecer. Poderemos ter um clima agradável e um espaço que se for bem organizado pode constituir um factor de atracção. Falaremos deste aspecto mais tarde. A burocracia da nossa Administração e a ineficácia do Sistema Judicial são factores extremamente negativos que teremos de superar.



A flexibilização da legislação laboral terá que pa
ssar por um “win win arrangement”, trocando maiores salários e mais empregos por menores garantias de emprego. A experiência demonstra que um excesso garantista em matéria de emprego se pode transformar em desemprego colectivo.


Mas a atracção e retenção de empreendedores pode ainda ser encarada pelo novo prisma do valor acrescentado. Não procuramos indústrias nem serviços no sentido tradicional, mas sim empreendedores que propiciem a Portugal parcelas de valor acrescentado. Se o Porto de Sines for aproveitado para “transhipment”, muitas mercadorias destinadas a outros países deixarão em Portugal algum valor acrescentado.
Teremos, neste contexto, que explorar novas oportunidades se a visão do valor acrescentado prevalecer.

Sem comentários:

Enviar um comentário