terça-feira, 22 de setembro de 2009

5 - O Endividamento


O Endividamento


O endividamento é, sem sombra de dúvida, um motivo de preocupação. Mas preocupações não resolvem problemas. Do que carecemos é de soluções. A via contemplativa, a apresentação das estatísticas e gráficos pode ter um grande impacto mediático mas não chega para compreender as causas nem para antecipar as consequências.


Na última década duas alterações de fundo se verificaram: a criação da zona EURO, na qual nos incluímos, e a globalização do mercado de capitais. Duas alterações que provocaram mudanças de comportamentos e de estratégias.


O Estado e o Sistema Bancário deram-se conta de que os financiamentos estrangeiros eram mais baratos de que as remunerações pagas às poupanças portuguesas. Os produtos de poupança nacionais são escassos. As tentativas do início dos anos 90 extinguiram-se rapidamente depois de alguns visíveis abusos.


Por outro lado, os captadores de poupanças nacionais concluíram que os rendimentos provenientes de produtos estrangeiros eram melhor remunerados e, apesar de tudo, mais seguros.

Todos nos recordamos que nos anos 80 os depósitos a prazo eram o grande instrumento de poupança e também da fase em que na Banca se falava na canibalização de depósitos, transformando-os em aplicações financeiras crescentemente a nível internacional.
Por outro lado, a nossa integração na Zona Euro eliminou politicamente o risco cambial e criou, pela valorização crescente da moeda europeia, dificuldades às nossas actividades exportadoras.
Também não podemos esquecer neste quadro de análise a queda vertiginosa das taxas de juro para podermos entrar na Zona Euro e a redução drástica da taxa de inflação. No início dos anos 80, a Banca fugia do crédito à habitação e o pouco que se fazia tinha juros bonificados pelo Estado. Em vinte anos passou a ser um factor de agressiva concorrência entre os Bancos. Privatizaram-se Bancos e Companhias de Seguros e novas entidades foram fundadas.

Os vários Governos foram confrontados com todas estas evoluções, tomaram decisões, cometeram erros e terminamos estes 30 anos com uma crise financeira e económica de nível mundial. Durante estas três décadas recebemos uma ajuda substancial da União Europeia. Se uma parte dos fundos recebidos foi bem utilizada com visíveis melhorias das nossas condições de vida, há também o reverso da medalha: alguns procedimentos altamente criticáveis.



O objectivo estabelecido para o défice de 3% foi um constrangimento útil, obrigando-nos a uma maior disciplina, infelizmente posta em causa pela actual crise. Em 30 anos vivemos profundas mutações sendo obrigados a reagir com grande rapidez, comparativamente com outros países bem mais apetrechados do que nós.



O endividamento tem várias origens. A sua análise é muito importante para determinar a sua gravidades e as soluções a adoptar.

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