segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Novo Modelo de Economia - primeira listagem de acções possíveis


1 – Atrair os consumidores estrangeiros
Uma das formas de captar valor acrescentado consiste em atrair consumidores estrangeiros ou emigrantes.O turismo, a realização de eventos culturais, desportivos ou outros, representam formas modernas de atrair consumidores estrangeiros.

Desde a nossa integração na União Europeia desenvolveu-se de forma mais intensa o comércio de fronteira. Os casos de Vila Real de Santo António ou de Elvas são exemplos deste comércio de fronteira .O desafio consiste em organizar eficazmente esta actividade e alargar a zona geográfica susceptível de ser atraída. O que hoje existe é de geração espontânea mas sente-se que com imaginação e algum apoio podemos ir muito mais longe. Trata-se, afinal, de apoios à exportação.

Na fase actual com a diferença de IVA entre Portugal e Espanha o comércio de fronteira começa a ser francamente favorável a Espanha, a alargar-se a mais vastas zonas de Portugal e à compra de matérias-primas para empresas. Sintoma claro de que a harmonização fiscal na Ibéria é indispensável, constituindo matéria sobre a qual não nos podemos iludir.


Por outro lado estamos longe de olhar para cada turista ou estrangeiro que nos visita como um importador, motivando-o a consumir, utilizando-o como elemento de divulgação. Só um país que cuida mal das suas potencialidades pode tolerar uma mediatização internacional da sua criminalidade própria de países subdesenvolvidos. Trocam-se audiências efémeras dos órgãos de comunicação por prejuízos incalculáveis. Estamos a falar de desinformação e nunca de liberdade de informação.


Os eventos que merecerão análise específica são hoje disputados pelos diversos países com grande afinco por representarem visitas maciças de consumidores estrangeiros e elementos preciosos de promoção comercial.

2 – Evitar importações
Apesar de estarmos num processo imparável de globalização e de até parecer estar fora de moda evitar importações temos de admitir que as leis do óbvio têm mais importância do que parece à primeira vista.

A situação dos vinhos portugueses é paradigmática. Conseguimos nas últimas décadas melhorar de tal forma a qualidade e a comercialização dos nossos vinhos de mesa que o consumo de vinhos estrangeiros se tem mantido a níveis muito baixos. É ainda exemplar o facto dos portugueses se sentirem orgulhosos dos seus vinhos dando-os a beber aos seus convidados estrangeiros.

Os vinhos que comercializamos em Portugal deixam para a nossa Economia valor acrescentado nas actividades de restauração e o consumo dos turistas que nos visitam deixa-nos valor acrescentado na balança de pagamentos.

3 – Promover eventos, se possível com apelo e divulgação internacional
Apesar dos exemplos positivos ainda não interiorizámos que os eventos, principalmente os de carácter internacional constituem para a Economia do século XXI motores de desenvolvimento relevantes.





Analisemos os dois casos mais recentes: a Expo 98 e o Campeonato Europeu de Futebol. Já falámos anteriormente das contas da Expo 98. O impacto a nível internacional não foi muito relevante. Apesar disso o número de visitantes estrangeiros foi significativo, principalmente espanhóis. É um facto que a especulação gerada ao nível hoteleiro foi prejudicial e não houve a promoção turística adequada para obter um melhor aproveitamento internacional. Soubemos fazer a Expo e garantir o seu funcionamento em condições de excelência.



Aproveitámos para reconverter uma zona altamente degradada dos Municípios de Lisboa e de Loures, transformando-a num espaço aprazível com qualidade. As estruturas construídas continuam a ser utilizadas na sua quase totalidade pelo que o investimento a fundo perdido foi praticamente desprezível.


Ao longo de quatro meses os portugueses tomaram contacto com novas realidades e tecnologias e, sobretudo, sentiram-se orgulhosos. Num pequeno mundo organizado, higiénico, moderno, cosmopolita os portugueses sentiram-se bem e colaboraram. Durante as cerimónias realizadas sob a pala do Pavilhão de Portugal em honra dos vários países convidados, quando a Banda da GNR tocava o Hino Nacional os portugueses que aguardavam na fila de espera para visitar o pavilhão cantavam espontaneamente.Na noite do encerramento ouvimos centenas de milhares de pessoas a gritar: Portugal, Portugal!

Já depois deste fim de Setembro de 1998 tivemos uma nova vaga de entusiasmo popular a propósito da organização e participação no Campeonato Europeu de Futebol. Temos de admitir que as nossas elites têm uma invulgar capacidade para, em pouco tempo, pôr de rastos um povo que quando lhe dão espaço e motivos se entusiasma. No que respeita ao Campeonato da Europa que representava uma esplêndida oportunidade para colocar Portugal nos ecrãs de televisão de todo o Mundo durante muitas horas e divulgar o que Portugal tem de melhor, algumas vozes agoirentas reduziram, com visão míope, o que teria de impacto este evento a uma discussão sobre estádios e a resultados futebolísticos.

O evento não é responsável pela nossa perspectiva megalómana e paroquial em matéria de estádios de futebol. Como os estádios estão feitos o melhor caminho é pôr a cabeça a trabalhar para encontrar formas de tirar deles o melhor proveito. Independentemente de todas as vicissitudes não existem dúvidas de que os eventos são geradores importantes de valor acrescentado e também de captação de valor acrescentado externo ao país. Como é muito peculiar entre nós quando uma equipa faz algo bem é rapidamente postergada por novos protagonistas que em vez de aproveitarem a experiência existente se lançam numa dispendiosa aprendizagem desprezando a experiência anterior.

4 – Aproveitar as actividades desportivas e de lazer como geradoras de valor acrescentado
As actividades desportivas e de lazer têm vindo a aumentar de significado e geram um elevado valor acrescentado. Nas últimas décadas a exportação de música pelos Estados Unidos tem contribuído decisivamente para o equilíbrio das suas contas externas.

Estamos a avançar para uma crescente internacionalização destas actividades e a perspectiva de captação de valor acrescentado representa algo de novo que ainda não sabemos aproveitar em termos económicos. Continuamos a olhar para o futebol com paixão clubística sem nos darmos conta que essa paixão tem que ser equilibrada pela capacidade de gestão e pelas oportunidades económicas em cada dia mais visíveis. Exportamos e importamos jogadores e treinadores, impulsionamos o turismo interno e o externo e começamos talvez a visionar que o futebol, por exemplo, é uma forma de tornar conhecida uma cidade ou uma região a nível internacional. Neste contexto, podemos e devemos considerar que se se estabelecem esquemas de apoio às empresas industriais e de serviços não há razão para excluirmos desse apoio sociedades desportivas.

Qual é a contribuição das actividades desportivas e de lazer para o valor acrescentado bruto nacional? Qual é o resultado da nossa balança de transacções ou de pagamentos nessas mesmas áreas?Existem hoje Fundos de Investimento que investem exclusivamente na compra e venda de jogadores e ao que se divulga com muito bons resultados.

5 – Aproveitar eficazmente as nossas vocações naturais
Recentemente o turismo tem sido considerado com uma última tábua de salvação no que respeita às nossas vocações naturais.Estamos longe de aproveitar eficazmente as nossas potencialidades turísticas oscilando entre o desenvolvimento caótico e a protecção da natureza levada até extremos de incoerência.


Recordemos as célebres gravuras do Vale do Côa. Quem sempre defendeu que as gravuras seriam bem mais importantes do que a barragem não pode deixar de se indignar com a frustração de uma visita ao Vale do Côa. Na verdade nem vemos gravuras nem temos barragem.Aproveitar as potencialidades do Vale do Côa é um bom desafio mas está por realizar, apesar dos acalorados debates sobre o assunto. No entanto, as gravuras estão lá e o Vale do Côa também e representam um bom valor acrescentado a juntar às margens do Douro, às quintas, às adegas e aos vinhedos da região. Paisagens magníficas a desafiar as mais belas do Mundo.

Merece consenso que o Mar está na base de um conjunto promissor de vocações. Já falámos das nossas praias, dos excelentes portos, das paisagens magníficas numa Europa cuja maior fronteira continental com o Grande Oceano Atlântico é a nossa.

No passado recente com atitudes que bem mereciam procedimento criminal arrasámos a nossa frota de Marinha Mercante e destruímos paulatinamente a nossa Indústria de Reparação e de Construção Naval. As pescas andam por aí numa perspectiva de sobrevivência cada vez mais ameaçada. Quando entramos nos enormes navios de cruzeiros para 3000 ou mais recentemente para 5000 passageiros e ouvimos referir que foram construídos na Finlândia não podemos deixar de sentir uma profunda revolta. A Finlândia onde o número de dias anual em que é possível trabalhar ao ar livre é reduzido comparativamente com o nosso, devido às condições climatéricas. Drucker diz há longos anos que o Mar será uma das grandes oportunidades do século XXI porque no Mar o homem ainda não evoluiu da atitude primária do caçador para a atitude racionalizada do lavrador.

A Floresta constitui indiscutivelmente uma terceira vocação. O clima é determinante no crescimento de certas espécies que podem atingir a dimensão de corte entre 15 e 20 anos. Existe uma fileira industrial que devemos fazer evoluir, a qual se alcança em actividades de capital intensivo e por essa razão menos vulneráveis à concorrência de mão-de-obra barata.

A investigação das nossas vocações naturais ou ocasionais deve ser objecto de uma preocupação constante, pois elas representam um importante potencial de valor acrescentado, de exportação e de criação de emprego.Apresentámos apenas três exemplos que têm sido considerados consensuais.

6 – Aproveitar o potencial de desenvolvimento dos sectores que apresentam um “boom” de crescimento espontâneo
Dos sectores que registam um crescimento invulgar destacamos: a Saúde e a Segurança. Tanto num caso como no outro estamos perante sectores com um elevado valor acrescentado. O problema é que nestes sectores o Estado criou fortes responsabilidades sociais as quais transformam uma actividade económica numa despesa pública. Esta atitude constitui um forte obstáculo ao desenvolvimento de cada um destes sectores.

O Estado vai ser forçado pelas circunstâncias a estabelecer os limites da sua intervenção. Nada obsta a que o Estado garanta esquemas de solidariedade social adequados ao nível de coesão indispensável a uma sociedade que pretende desenvolver--se de forma harmoniosa. Enquanto o Estado não olhar para estes dois sectores como actividades económicas que se desenvolvem para dar resposta a necessidades fundamentais dos cidadãos, os abusos, a anarquia e a irracionalidade dos gastos não será superada, nem garantido o modelo que se pretende preservar. O Estado deverá definir com rigor o que são as suas funções, que sistemas de solidariedade deseja implementar, o que são as exclusões ou os plafonds de intervenção.

Ao concessionar a exploração de uma praia o Estado pode definir que não garante a segurança dessa praia e que essa é uma obrigação do concessionário, definindo ainda os níveis mínimos de segurança a que o concessionário está obrigado.

7 – Promover o “outsourcing” de funções exercidas actualmente pela Administração Central e Local
Apesar do “outsourcing” representar uma atitude corrente da Administração estamos ainda longe de reservar para o Estado as tarefas com dignidade e relevância para receberem a designação de Função Pública.
O “outsourcing” está quase sempre ligado a funções de elevado valor acrescentado que podem representar um bom estímulo para a iniciativa privada incluindo parcerias internacionais as quais podem dar às empresas portuguesas um apport de know-how e de organização não desprezíveis.

Por outro lado o “outsourcing” representa normalmente um upgrade das funções que a nível da Administração são não qualificadas. Uma empregada de serviços de limpeza na Administração representa uma função não qualificada. A mesma empregada ao passar para uma empresa especializada em limpezas ganha importância e exerce a sua função com muito melhor qualificação.

8 – Aproveitar os Fundos da União Europeia com redobrada eficiência
A experiência anterior deve levar-nos a evitar os erros cometidos no passado. O aproveitamento eficaz dos Fundos Comunitários é uma derradeira oportunidade para usarmos proficuamente essas ajudas.
A experiência já demonstrou que investirmos mais dinheiro em modelos e sistemas que estão ultrapassados ou que nunca funcionaram promove mais despesa com resultado nulo. Todos os sistemas básicos da nossa Administração carecem de remodelação urgente e profunda.

9 – Promover a investigação aplicada e torná-la rentável
Deixámos para o fim a investigação. Este é um campo complexo que merece ser desenvolvido como um projecto autónomo.

Mas algumas linhas de força podem ser apresentadas desde já:
- Há pelo menos vinte anos que se fazem esforços para que os institutos de investigação do Estado sejam financiados por projectos e por serviços prestados. A necessidade de avançarmos neste caminho não pode ser adiada.

- Há um campo de investigação que se impõe desde já. A investigação das melhores práticas a nível internacional em todas as áreas em que carecemos de profundas remodelações, ou mesmo modelos completamente novos de funcionamento.

- As nossas vocações naturais devem ser objecto de programas vastos de investigação – por exemplo: o mar e a floresta e a sua fileira industrial.

- Admitindo que existam projectos individuais merecedores de apoio teremos de eleger algumas áreas de especialização e concentrarmo-nos nelas.

- Muitas empresas fazem investigação sem se darem bem conta de que se estão enriquecendo em termos de know-how o qual constitui um património de grande valor económico. Aprender a fazer bem, investigar como se pode fazer bem pode ser uma forma eficaz de investigação aplicada.

- As áreas de investigação são áreas de valor acrescentado interno ou exportável.

- As operações de Venture Capital são um complemento indispensável às oportunidades geradas pela investigação.

10 – Proteger alguns com prejuízo para todos?
Nos Estados Unidos existe uma corrente de opinião que considera de forma mais fleumática a invasão do mercado por produtos têxteis chineses. Os protagonistas dessa corrente afirmam que se os consumidores norte-americanos vão gastar menos em vestuário vão ter mais dinheiro disponível para gastar noutros consumos.

A Economia Americana tem que rapidamente encontrar e satisfazer as novas oportunidades que vão surgir. Se a médio prazo é este o caminho inevitável, a curto prazo geram-se inconvenientes graves ao nível do desaparecimento de postos de trabalho na indústria têxtil dos USA Mas existe uma outra perspectiva para encarar este assunto. O preço final de venda de um produto representa entre duas a cinco vezes o preço à saída da fábrica. Isto significa que vão ficar pelo caminho (transporte, intermediação, seguros, margens de grossista, de importador ou de marca, promoção e publicidade, margens de retalho, etc.) grandes parcelas de valor acrescentado.

Podemos defender-nos dos produtos chineses comprando-os e absorvendo o valor acrescentado que está para além da produção. O que temos de garantir é que as condições de exploração das lojas pertencentes a comerciantes chineses implantadas no país operam com respeito pelas regras legais vigentes, aspecto que podemos e devemos controlar.

A produção de confecções têxteis em Portugal dá trabalho a alguns milhares de portugueses. A compra de produtos têxteis muito mais baratos pode favorecer dez milhões de portugueses e libertar capacidade económica para outros consumos. Em síntese:


a) O interesse e a protecção de alguns é apenas uma perspectiva temporária de curto prazo, a médio prazo essa protecção transforma-se num prejuízo para todos.

b) Temos que garantir igualdade de condições e respeito pelas regras da concorrência a nível do mercado interno, muito especialmente no comércio. Existem em Portugal muitas formas de comércio nas margens da legalidade.

c) Em muitos casos o preço industrial é apenas uma pequena parte do preço final. O cálculo do valor acrescentado em cada fase, desde as matérias-primas ao preço final para o consumidor é indispensável e também é igualmente indispensável saber quem vai captar cada parcela desse valor acrescentado.

11 – Melhorar o nosso nível civilizacional
Numa fase da nossa vida colectiva em que não podemos esperar a curto prazo grandes melhorias no que respeita ao nosso PIB per capita deveremos promover uma campanha de melhoria civilizacional.
A alteração de alguns dos nossos menos civilizados comportamentos é um acto de vontade individual e colectiva que pode proporcionar-nos melhor qualidade de vida sem investimento.

A cortesia, o bom atendimento, a excelência com que exercemos as nossas profissões são actos resultantes de fortes motivações individuais e colectivas. O bom exemplo tende a ser seguido. O mau exemplo desencoraja, desmotiva, faz-nos cair no pessimismo e na falta de esperança e de horizontes. Por isso estamos numa boa fase para lançarmos uma vasta e ambiciosa campanha de “upgrade” civilizacional

Há dois estados de espírito que sempre nos fizeram falta: o fairplay e o achievement, isto é, saber ganhar e saber perder e a satisfação de termos realizado algo ou de nos sentirmos realizados.
Para financiar este estado de espírito teremos apenas de investir na nossa vontade e de aprender a distinguir e a apreciar a inteligência e a criatividade onde elas existam. Apresentámos um modelo: Uma Economia baseada no valor acrescentado. Temos esperança de que ele mereça reflexão crítica, aperfeiçoamentos e desenvolvimentos.

Sem comentários:

Enviar um comentário